segunda-feira, 17 de novembro de 2014

O NOVO SEMPRE PROVOCA MEDO E TEMOR!

O NOVO SEMPRE PROVOCA MEDO E TEMOR!




Jean Paul Sartre já dizia que “Somos condenados a sermos livres!”, e com isso, na contramão deste pensamento, todo mundo ama somente a si mesmo e despreza o coletivo. O novo sempre provoca medo e temor!
Quem não quer ser criticado não participa de equipe nenhuma; quanto mais uma pessoa grita para impor sua ideia, seu argumento sempre será de ruim para péssimo; quanto mais desejar ser perfeito, mais arrogante será. O indivíduo só xinga o outro por causa do mal que há em cada um, cada uma de nós. O novo sempre provoca medo e temor!
De 1979 a 2013 se viveu na Igreja, ao mesmo tempo, deserto e inverno. Foram 34 anos de função ao invés de missão. Foram os tempos da infantilização e da clericalização dos leigos e leigas. Foram 34 anos errando..., ao invés de fazerem profetas e profetisas, fizeram príncipes e princesas medievais. A missão vêm antes da função. Quando isso não acontece, se perde o respeito, o diálogo e o encontro. Se edificam muros ao invés de pontes. Prefere-se o poder ao invés do carisma. O novo sempre provoca medo e temor!
Digo tudo isso depois de ler algumas entrevistas e pronunciamentos de Francisco. Em sua humildade e querendo estar próximo de todo o rebanho e ter o cheiro das ovelhas espalhadas pelo mundo, especialmente os pobres e os jovens, por muitas vezes já mostrou que ele não gosta de ser chamado de Sua Santidade, Pontífice, Santidade, mas simplesmente de padre Jorge ou pelo Projeto de Igreja que assumiu: Franciscus (Francisco). Não colocou o número romano I depois do nome pois não é um imperador, mas um pastor; um pastor vindo do fim do mundo. O novo sempre provoca medo e temor!
Na última Jornada Mundial da Juventude, acontecida no Rio de Janeiro em 2013, muitos jovens tradicionalistas, de tendência carismática e outros, gritavam a plenos pulmões: “Nós somos a juventude do Papa!”. Eles esperavam, como todos nós, a vinda do Papa emérito Bento XVI, e recebemos Francisco. Até a presente data, não se sabe o que fazer com Francisco, pois ele não quer uma Igreja fechada em si mesma, mas uma Igreja para fora, em missão, e isso incomoda muita gente. E Francisco irá dizer: “Não quero juventude do Papa, mas quero uma juventude para fora da Igreja, perto, com e ao lado dos pobres!”. O novo sempre provoca medo e temor!
Por causa do Projeto de Vida que Francisco representa é que querem assassiná-lo. Há vários sites no Brasil, de fundamentalistas e fanáticos pela Igreja da Cristandade, que pede “a Deus que leve logo embora este papa!”. Toda vez que Francisco lê os Evangelhos, muitos, muitas, sabem que virão ideias de mudança por aí. O novo sempre provoca medo e temor!
Hoje dia 17 de novembro de 2014, comemora-se os 49 anos do Pacto das Catacumbas, que deveria ser retomado e adaptado aos dias atuais. Acredito que teríamos um número menor do que aqueles que em Roma o assinaram originalmente, mas a fiel esperança deve prevalecer mesmo quando se está cansado, ferido e machucado. Tudo o que é maravilhoso, tudo o que é feito em mutirão, está na comunhão. O Pacto das Catacumbas nos convida hoje a olharmos o mundo de outra perspectiva: a misericórdia.
“É necessário sairmos de nós mesmos, pois evangelizar é a missão da Igreja, não só de alguns, mas a minha, a tua, a nossa. Caminhar com o nosso povo, por vezes à frente, por vezes no meio e outras atrás: à frente, para guiar a comunidade; no meio, para animar e sustentar; atrás, para a manter unida, a fim de que ninguém se atrase demais, para a conservar unida e também por outro motivo: porque o povo intui! Tem a sensibilidade para encontrar novas sendas para o caminho”... assim nos dirá Francisco.
Termino com um poema: SE[1].
Se os olhos não alcançam os abraços
Se os abraços não acolhem os beijos
Se os beijos são frios demais
Nunca se estará em paz
Se os passos não fazem o caminho
Se o caminho não conduz ao fim
Se o fim está longe demais
Nunca se estará em paz
Pra que chorar sem sofrer
Pra que sofrer sem tentar
Cada acerto é o resultado do erro
Que se pode ou não realizar


Emerson Sbardelotti
Mestre em Teologia pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo.




[1] TAVARES, Emerson Sbardelotti. Utopia Poética. São Leopoldo: CEBI, 2007.

Nenhum comentário: