domingo, 15 de junho de 2008

BÍBLIA E LITURGIA: REFLEXÕES DA CAMINHADA II

BÍBLIA E LITURGIA: REFLEXÕES DA CAMINHADA II

"Pois andando e observando vossos lugares de culto encontrei um altar com esta inscrição: "AO DEUS DESCONHECIDO". Pois bem, eu vos anuncio aquele que venerais sem conhecer". (At 17,23)

Numa conversa descontraída, com alguns jovens da Prelazia de São Félix do Araguaia/MT, durante uma assembléia, em janeiro de 2003, discutíamos sobre o retorno do sagrado!
O sagrado retorna a partir de uma situação de desespero, depressão, fracasso, doença, morte, separação, amor não correspondido, corrupção, instabilidade político-econômica...crises...
É muito comum o sagrado aparecer com força, porque, na medida em que os dias e a história passam, e não trazem as respostas que queremos ouvir, começa a se apelar para o sobrenatural.
É a partir da crise da "pós-pós-modernidade" que os deuses retornam com imenso poder. Eles haviam sido banidos no começo do mundo moderno, com o Iluminismo; hoje porém, ressurgem com a força de águas represadas.
E aparecem deuses para tudo quanto é gosto!
As redes de televisão não cansam de mostrá-los todos os dias. Com o apoio da mídia surgem e crescem as catedrais do deus Consumo, e as catedrais do deus Mercado.
Deus retorna por alto, mas não é Deus que retorna, são os deuses. E aí é que está o problema! Deuses, no plural, costuma-se a equivaler a ÍDOLOS!
Nessa proliferação de deuses, qual é o Deus verdadeiro?
Diferentemente da Europa, aqui no Brasil, e na América Latina, o problema não é a falta de Deus, é o excesso de Deus.
Nós, dos grupos de jovens da PJ, no meio desse turbilhão de informações, por vezes destorcidas, nos sentimos como Paulo em Atenas, onde se tinha uma grande variedade de deuses; mas se tem o altar AO DEUS DESCONHECIDO!
É deste Deus que o apóstolo quer falar e que nós devemos falar sempre.
Porque deuses conhecidos são deuses feitos para nossa imagem e semelhança. Porque deuses conhecidos são deuses perigosos. Neles, os seres humanos transferem as suas responsabilidades. Quando se conhece muito a Deus, é sinal que deixou de ser Deus, passa a ser um mero produto em nossas mãos; o Deus verdadeiro é sempre desconhecido. É aquele que se descobre no sofrimento humano, é aquele que se descobre na observação da Natureza, do Outro; é aquele que se descobre quando se faz silêncio, pois no silêncio experimentamos o Deus desconhecido.
O Deus desconhecido não é o deus dos espetáculos e das soluções imediatas.
O Deus desconhecido de Jesus se sente vivendo a pobreza do povo nas causas do Reino.

Emerson Sbardelotti
Mestre em Teologia pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo

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