terça-feira, 24 de junho de 2008

BÍBLIA E LITURGIA: REFLEXÕES DA CAMINHADA III

BÍBLIA E LITURGIA: REFLEXÕES DA CAMINHADA III

"Mas o Senhor espera para ter piedade de vós, agüenta para se compadecer de vós porque o Senhor é um Deus reto: felizes os que nele esperam" (Is 30,18).

Foi numa assessoria sobre Liturgia Jovem, que a profecia de Isaías e a de João Batista chamou a atenção daquela juventude reunida em retiro.
Expliquei que nas leituras do tempo do Advento, Isaías é o personagem que apresenta textos messiânicos e escatológicos, que irão se complementar nos textos evangélicos referentes a João Batista, também personagem típico do Advento, uma vez que este fala e aponta o Messias (cf. Is 40,1-11; Lc 3,1-20).
A realização das profecias na história, aparece como desenvolvimento do desígnio da salvação na qual a chave é o Cristo. Assim, redescobrimos a centralidade de Cristo na história da salvação, ontem, hoje e amanhã.
Através da leitura atenta das Sagradas Escrituras, poderá se perceber e escutar os passos da Palavra que se aproxima da história da humanidade.
É em cada profecia realizada, é na fidelidade comprovada que se manifesta a fidelidade do Pai, o protagonista do Primeiro Testamento, aquele que Jesus vem revelar com a sua encarnação no Segundo Testamento e em nosso meio.
Uma jovem perguntou: - "Há uma ligação íntima entre Isaías, João Batista e Jesus?"
Respondi: - "Há! A profecia de João, a de Jesus, só fará sentido se for lida e inculturada a partir da profecia de Isaías; a profecia de um sendo ponto de chegada e de saída da profecia dos outros!"
O profeta Isaías é chamado de "protoevangelista" , pois, com seus oráculos anuncia os sinais dos tempos messiânicos; suas profecias revelam o rosto escondido do Ungido (Messias - palavra hebraica / Cristo - palavra grega = UNGIDO).
João Batista, o Precursor, aquele que vem antes para preparar o caminho, o último dos profetas, aquele que indica e mostra o Cordeiro que tira o pecado do mundo; aquele que recebe a resposta do Mestre à sua pergunta: - "És Tu aquele que devia vir ou devemos esperar outro?" e Jesus responde: - "Ide informar a João sobre o que ouvi e vedes: cegos recobram a visão, coxos caminham, leprosos são purificados, surdos ouvem, mortos ressuscitam, pobres recebem a boa notícia; e feliz daquele que não tropeça por minha causa" (Mt 11,1-6).
A partir das profecias na vida do povo, a liturgia do Advento desenvolveu na Igreja uma autêntica espiritualidade, que tem seu foco na espera do Senhor. Advento é a celebração alegre da espera do Senhor.
Encontramos no tempo do Advento algumas palavras chaves: "espera, esperança, atenção, vigilância, acolhida e partida".
A espera por Cristo deve ser aquela do(a) amigo(a) que há muito tempo não encontramos, não vemos!
O limite da espera é o encontro!
O limite do encontro é o abraço, o beijo fraterno!
Vem, Senhor Jesus!

Emerson Sbardelotti
Mestre em Teologia pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo

sexta-feira, 20 de junho de 2008

VELHO CANTOR DE BLUES

VELHO CANTOR DE BLUES

outro dia
numa rua qualquer
o velho cantor de blues
confunde a poesia
com o céu azul
a rouca voz
encanta a multidão
que atenta aos tropeços do mundo
ouve a profética canção
uma mensagem de paz
mensagem de amor
tudo em transformação
ao som de uma gaitas
e encontra a perfeição
num outro dia
num outro dia
canta o velho cantor de blues
confunde a fantasia
com o mesmo céu azul

Emerson Sbardelotti

segunda-feira, 16 de junho de 2008

OFÍCIO DIVINO DA JUVENTUDE

OFÍCIO DIVINO DA JUVENTUDE

O caminho percorrido:

Era dezembro de 1988, quando foi publicado no Brasil, pelas Edições Paulinas, hoje pela Paulus Editora, o Ofício Divino das Comunidades, o que vinha a ser uma versão popular da Liturgia das Horas para as Comunidades Eclesiais de Base. Uma das primeiras pastorais da Igreja Católica Apostólica Romana a rezar e a celebrar o Ofício Divino das Comunidades foi a Pastoral da Juventude, hoje, as outras Pastorais da Juventude (PJE, PJMP e PJR) experimentam deste banquete litúrgico-fontal.

Com tantos anos de caminhada, o Ofício Divino das Comunidades não é conhecido o bastante nos mais variados meios da sociedade e da Igreja.
Nasceu para as comunidades e se espalhou para todo o Brasil, mas falta ainda muita coisa a ser dita e vivida.

O Ofício Divino das Comunidades não é um livro, é sobretudo, um jeito novo de rezar, é um sopro anterior à própria Igreja, oriundo da oração e da experiência judaica: rezado com salmos, a liturgia com louvor e intercessão nas horas do dia (manhã / tarde).
O sol nascia = era a vinda do sol da justiça.
O sol se punha = entrega do trabalho para Deus.
Para os judeus-cristãos:
Pela manhã = a ressurreição.
Pela tarde = a memória, a paixão, a cruz de Jesus.

De forma simples, o Ofício Divino das Comunidades devolve ao povo o que dele foi tirado: a tradição da Igreja; a caminhada latino-americana de rezar com os pés no chão e a piedade popular.

O Ofício Divino das Comunidades é a oração dos batizados, não depende do ministro ordenado. Nele, o grande valor é a questão dos salmos: se não convivemos com os salmos, perdemos sua beleza litúrgica. Nos salmos cantamos para Deus. Jesus e seus amigos e amigas cantavam todos os dias os salmos. Os salmos eram a oração cotidiana daquele grupo e por conseguinte de todo o povo de Israel.

O Ofício Divino das Comunidades deve ser concebido como um útero: o útero de Deus.

Modo popular de rezar, modo de tornar o mundo a casa comum: a Pacha-Mama, onde estamos permanentemente na presença de Deus, que nos gera a cada manhã e tarde! Somos insistentemente criados e recriados por Deus.

E por falar no Ofício Divino da Juventude:

Nasceu em 2004, teve uma segunda edição em 2006 e agora em 2014 está em sua sexta edição e comemorando dez anos de sua criação. Foi organizado  por Cajueiro - centro de formação, assessoria e pesquisa em juventude, Fraternidade do Mosteiro da Anunciação do Senhor – Goiás – GO, Diocese de Goiás.
Além do Ofício Divino da Juventude você pode encontrar também um material didático para a capacitação e um subsídio musical do mesmo, fazendo o pedido pelo sítio: www.cajueiro.org.br ou pelo telefone: (62) 8285-4436.

Irmã Penha Carpanedo, capixaba, da Revista de Liturgia, uma das parteiras do Ofício Divino das Comunidades, me disse uma vez que o Ofício Divino pode ser rezado individualmente, sem nenhum rito. Entretanto, sendo uma ação litúrgica, tem um caráter marcadamente comunitário e celebrativo. O louvor de Deus se realiza na comunhão das irmãs e dos irmãos, por meio da Palavra e dos gestos simbólicos, por isso é interessante observar o sentido dos elementos que compõem o Ofício Divino:

CHEGADA

O Ofício Divino introduziu o elemento da chegada, para que cada pessoa disponha interiormente para o louvor, curtindo a presença do Senhor, reunindo o coração de modo que a oração comunitária se apoie na oração pessoal. O refrão meditativo ou o mantra neste momento, não pode ser mais um elemento que se introduz e que se usa de uma maneira mecânica. Ele é sugerido em função da oração pessoal que antecede o Ofício. O clima deste momento é estabelecido pelo silêncio e pela quietude. Não devemos passar mecanicamente do refrão meditativo à abertura ou transformar este momento num rito de abertura antes da abertura.

ABERTURA

O Ofício nunca começa com um comentário, nem com um cântico catequético. Começa com a Assembléia se colocando de pé e quem coordena entoa os versos bíblicos de invocação de Deus, convidando para o seu louvor e todos repetem.

RECORDAÇÃO DA VIDA

A liturgia celebra fatos, não celebra idéias. Não é reflexão de um tema, é memorial da história de Deus com seu povo. Na reflexão privilegiamos a atividade da mente que pesquisa, reflete, assimila informação, adquire conhecimento. No memorial, o objetivo é buscar o sentido da vida e da história, reanimar o coração, retomar o caminho da aliança com Deus. Sentar para recordar a vida, trazê-la de volta ao coração, partilhar lembranças e preocupações é ajudar a tornar a oração verdadeira.

HINOS

Não é um salmo, nem um cântico bíblico, ainda que inspirado na bíblia…é destinado ao louvor de Deus, expressando o sentido da hora, ou festa, ou tempo. São hinos da caminhada.

SALMO

Com os salmos a gente aprende a rezar ligado à história do povo de Deus, de ontem e de hoje, à luz do acontecimento maior, a páscoa de Jesus.

LEITURA BÍBLICA

O Oficio foi pensado para comunidades que não tem missa todos os dias. Se recomenda para todos os tempos a leitura do dia conforme o lecionário dominical e cotidiano.

MEDITAÇÃO

É tempo para deixar que a Palavra caia no coração mais profundamente e se encontre com a nossa experiência de vida. Não se trata de debater ou discutir, mas de acolher a Palavra do Senhor viva e atual. O fundamental na meditação é descobrirmos juntos a boa nova que nos vem por meio desta palavra e o que ela pede de nós.

CÂNTICO EVANGÉLICO

É costume antigo da Igreja cantar, no ofício da manhã, o cântico de Zacarias, ao despontar para nós o Sol da Justiça; à tarde, o cântico de Maria, dando graças ao Pai por sua manifestação na história, e, à noite, o cântico de Simeão, na grata e serena alegria de quem viu a salvação acontecer.

PRECES, PAI-NOSSO E ORAÇÃO

Alguém faz o convite e propõe a resposta, de preferência cantada. No final, todos recitam ou cantam o Pai-Nosso Ecumênico. Se concluem as preces como uma breve oração.

BÊNÇÃO

O Ofício se conclui com uma benção. Depois da benção, quem coordena despede a assembléia convidando a prolongar o louvor nos afazeres da vida.

Nos perguntamos: O que é brasileiro ou latino-americano no Ofício Divino?

Quanto ao conteúdo teológico – litúrgico, expressa:

a) O mistério pascal atuante na resistência dos pobres e em suas lutas por libertação social, política e cultural.
b) A aliança de Deus que fez opção pelos pobres.
c) A relação liturgia/vida (pessoal, comunitária, social).
d) A missão profética e sacerdotal do povo de Deus.
e) A dimensão cósmica e ecológica da fé.
f) A dimensão feminina em Deus
g) A igualdade entre homens e mulheres baseada no batismo.
h) A sensibilidade ecumênica e ao diálogo com outras tradições espirituais.

Quanto à expressão ritual:

a) Salmos e cânticos em linguagem verbal e musical popular.
b) Atenção a ritualidade (atitudes corporais, danças, ações simbólicas) – assume símbolos e gestos orantes da piedade popular (bandeira, beijar fita de santos, oferecer flores e velas…) e expressões celebrativas da Igreja da caminhada (cruz tosca representando a resistência de lavradores, terra, carteira de trabalho, carrinhos dos catadores de papel…).
c) Usa expressões afetivas, tanto na relação com Deus, como entre as pessoas participantes.
d) Valoriza o silêncio e cria espaço para a dimensão orante (fervor, devoção) e lúdico-contemplativa, própria do catolicismo popular (congadas, folias…).
e) No calendário, leva em conta os santos populares e os mártires da caminhada.
f) Une criatividade e tradição viva.

Quanto à organização eclesial e pastoral:

a) É espaço de oração comunitária, com a participação ativa de todos, alternativa para as rezas de antigamente e também às missas durante a semana.
b) É uma liturgia leiga, no sentido de que não depende da presença e presidência do clero.
c) Os ministérios são diversificados e partilhados ou assumidos em rodízio por homens e mulheres.
d) Leva em consideração a cultura oral do povo, pode ser organizada de tal forma que apenas uma pequena equipe coordenadora necessite acompanhar no livro.
e) Tem sido usado também, principalmente por ministérios leigos, em ocasiões pastorais como: encontros pastorais, bênção da casa, velório, visita a doentes…

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CARPANEDO, Maria da Penha. OS ELEMENTOS DO OFÍCIO DIVINO DAS COMUNIDADES. Apostila. São Paulo: 2003.
FACHIN, Teresinha. OFÍCIO DIVINO – ORAÇÃO DO POVO DE DEUS. Apostila, Vitória: 2003.
OFÍCIO DIVINO DA JUVENTUDE. 2ª. ed. Goiânia: 2006.
TAVARES, Emerson Sbardelotti. O MISTÉRIO E O SOPRO – roteiros para acampamentos juvenis e reuniões de grupos de jovens. Brasília: CPP, 2005.


Emerson Sbardelotti
Mestre em Teologia Sistemática pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo.

domingo, 15 de junho de 2008

EXPERIMENTAR DEUS

EXPERIMENTAR DEUS

Experimentar Deus no ar puro que entra no quarto.
Experimentar Deus nas dores da mulher durante o parto.
Experimentar Deus quando nada mais dá certo.
Experimentar Deus observando as sombras no teto.
E quem irá julgar o nosso futuro?
O presente já se tornou passado...
Seguiremos um caminho torto e errado,
no final um beijo de adeus.
Experimentar Deus saboreando o leite derramado.
Experimentar Deus no banheiro pelado.
Experimentar Deus quando se tem alguém ao lado.
Experimentar Deus no abraço apertado.
Experimentar Deus quando não se quer experimentar.
Experimentar Deus quando não se quer acreditar.
Experimentar Deus quando não se quer aceitar,
que somos humanos, apenas humanos.
Experimentar Deus na tristeza.
Experimentar Deus na canção.
Experimentar Deus rezando.
Experimentar Deus dormindo de vez.
E quando eu for embora,
levarei a lembrança daquelas que amo.
E quando eu for embora,
não olharei para trás.


Emerson Sbardelotti 

VOAR



VOAR
(para Maurício Barros)

caminhando sozinho
por ruas desertas
chutando lata

tantas janelas abertas
a liberdade tem um preço
saber voar leva tempo
meu blues não tem idade
mas inunda o coração
com pequenos gestos
sorrisos e sinceridade
saber voar leva tempo
a liberdade tem um preço


Emerson Sbardelotti

Membro do grupo de assessores da PJ da Arquidiocese de Vitória do Espírito Santo
Autor de O MISTÉRIO E O SOPRO - ROTEIROS PARA ACAMPAMENTOS JUVENIS E REUNIÕES DE GRUPOS DE JOVENS. Brasília: CPP, 2005.
Autor de UTOPIA POÉTICA. São Leopoldo: CEBI, 2007.

JUNTOS

JUNTOS


Solo le pido a Dios,
que en los caminos de la Patria Grande,
sigamos juntos,
llorando, sonriendo, abrazando:
llevando dentro de nuestros corazones,
el toque de nuestras manos,
el cariño que insiste...a pesar de la distancia...
aumentar la saudade.
Solo le pido a Dios:
Gracias a la vida.

Emerson Sbardelotti Tavares
tradução e foto de Mayra Rodriguez (Guatemala)
3a. Jornada Ecumênica Internacional - Mendes/RJ, julho de 2005

BÍBLIA E LITURGIA: REFLEXÕES DA CAMINHADA II

BÍBLIA E LITURGIA: REFLEXÕES DA CAMINHADA II

"Pois andando e observando vossos lugares de culto encontrei um altar com esta inscrição: "AO DEUS DESCONHECIDO". Pois bem, eu vos anuncio aquele que venerais sem conhecer". (At 17,23)

Numa conversa descontraída, com alguns jovens da Prelazia de São Félix do Araguaia/MT, durante uma assembléia, em janeiro de 2003, discutíamos sobre o retorno do sagrado!
O sagrado retorna a partir de uma situação de desespero, depressão, fracasso, doença, morte, separação, amor não correspondido, corrupção, instabilidade político-econômica...crises...
É muito comum o sagrado aparecer com força, porque, na medida em que os dias e a história passam, e não trazem as respostas que queremos ouvir, começa a se apelar para o sobrenatural.
É a partir da crise da "pós-pós-modernidade" que os deuses retornam com imenso poder. Eles haviam sido banidos no começo do mundo moderno, com o Iluminismo; hoje porém, ressurgem com a força de águas represadas.
E aparecem deuses para tudo quanto é gosto!
As redes de televisão não cansam de mostrá-los todos os dias. Com o apoio da mídia surgem e crescem as catedrais do deus Consumo, e as catedrais do deus Mercado.
Deus retorna por alto, mas não é Deus que retorna, são os deuses. E aí é que está o problema! Deuses, no plural, costuma-se a equivaler a ÍDOLOS!
Nessa proliferação de deuses, qual é o Deus verdadeiro?
Diferentemente da Europa, aqui no Brasil, e na América Latina, o problema não é a falta de Deus, é o excesso de Deus.
Nós, dos grupos de jovens da PJ, no meio desse turbilhão de informações, por vezes destorcidas, nos sentimos como Paulo em Atenas, onde se tinha uma grande variedade de deuses; mas se tem o altar AO DEUS DESCONHECIDO!
É deste Deus que o apóstolo quer falar e que nós devemos falar sempre.
Porque deuses conhecidos são deuses feitos para nossa imagem e semelhança. Porque deuses conhecidos são deuses perigosos. Neles, os seres humanos transferem as suas responsabilidades. Quando se conhece muito a Deus, é sinal que deixou de ser Deus, passa a ser um mero produto em nossas mãos; o Deus verdadeiro é sempre desconhecido. É aquele que se descobre no sofrimento humano, é aquele que se descobre na observação da Natureza, do Outro; é aquele que se descobre quando se faz silêncio, pois no silêncio experimentamos o Deus desconhecido.
O Deus desconhecido não é o deus dos espetáculos e das soluções imediatas.
O Deus desconhecido de Jesus se sente vivendo a pobreza do povo nas causas do Reino.

Emerson Sbardelotti
Mestre em Teologia pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo

BÍBLIA E LITURGIA: REFLEXÕES DA CAMINHADA

BÍBLIA E LITURGIA: REFLEXÕES DA CAMINHADA

"Abriram-se os olhos e o reconheceram. Mas Ele desapareceu de sua vista" (Lc 24,31)


Num retiro para 150 jovens, falávamos sobre Mística e Espiritualidade da Pastoral da Juventude.
Um dos textos trabalhados foi o que fala do Caminho de Emaús.
Aquela juventude animada entrava em contato, a maioria pela primeira vez, com os degraus da Leitura Orante da Bíblia.
Individualmente, saíram para estudar o texto. No meio das descobertas e dúvidas, surgiu uma intrigante pergunta:
- "Para onde havia ido Jesus após desaparecer?"
O silêncio dominou o ambiente!
Alguns minutos depois, tímidas respostas foram aparecendo:
- "foi para junto de Deus!"- "foi para o céu!"- "foi para o paraíso!"- "foi ao encontro de Maria!"- "foi ao encontro dos discípulos!"- "voltou para a Galileia!"
Pude observar que tais respostas não saciavam o que o grupo estava sentindo. Aqueles corações se abrasavam.
Mas, a resposta ideal, ainda não havia sido dada.
Sugeri que todos(as) se levantassem e que de dois em dois caminhassem em silêncio, pelas dependências da casa, depois conversassem e meditassem sobre aquele trecho da leitura.
Ao retornarem, notei, que estavam muito emocionados(as) com a experiência e pedi que dessem a tão esperada resposta. Foi quando uma garota, uma das mais novas, com seus 14/15 anos, disparou:- "Jesus foi para dentro deles!"
Mais uma vez, o silêncio dominou o ambiente. Não se precisou dizer mais nada: os abraços e os aplausos falaram mais forte!
Jesus foi para dentro deles e para dentro de cada um de nós; nos anima a caminhar sempre!
Em nossas Comunidades Eclesiais de Base, em nossos grupos da PJ, ter esta clareza é estar no caminho que leva ao Reino. E este caminho passa pelo Inferno do Sofrimento Humano:
- a exclusão, a marginalização, a discriminação, a injustiça, a miséria e a fome.
Jesus mesmo, para chegar ao Pai, passou por este caminho, por isso cumpriu a missão pela qual viveu.
Não perder a dignidade e a coragem para lutar é sinal que verdadeiramente a Salvação está dentro de cada um de nós. Ter força para voltar e anunciar aos outros, tudo o que o Ressuscitado falou e fala durante a caminhada é colocar mais um tijolo na casa comum: a Civilização do Amor!
É ter esperança e acreditar que somos parte do terreno fértil da transformação que virá!

Emerson Sbardelotti
Mestre em Teologia pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo

sábado, 14 de junho de 2008

O VIAJANTE CAMINHONEIRO

O VIAJANTE CAMINHONEIRO

despedida sim,
mas tristeza não.
quem sabe o amanhã,
o que suporta o coração,
que diz sempre sim ou não,
para o amor ou a paixão.

se da vida nada tenho,
nada posso deixar aqui,
por que somos da terra um convênio,
na partida de todos,
os que vivem na esperança:
de encontrar um mundo novo.


é rebelde o tempo,
que nos desgasta a envelhecer,
e triste a recordar o passado,
quando tudo podemos,
é o hoje no futuro...
é só lembranças que guardamos
e o ecoar da negação,
que sozinhos terminamos.

por ser a sombra dos meus pensamentos,
é muito triste acordar,
mas as lembranças que ainda existem,
vivem no tempo a me acompanhar...
por ser a força do destino,
eu já não posso evitar essa cruz
de todo o caminho,
que a gente leva devagar.

e bem distante ele pára no posto,
seu corpo cansado pedindo para descansar,
se embala no travesseiro,
por ser o companheiro,
que no amanhã irá te despertar.

assim,
em lembranças e saudades...
que bate forte no peito...
o viajante segue sempre em frente,
no retorno a saudade
e a alegria por poder sempre retornar.
Clauzira Ghisolfi (minha madrinha)

* Autor da Foto: Warllem Soares

MORRER AOS POUCOS


MORRER AOS POUCOS *
(Letra e música: Emerson Sbardelotti)

estou morrendo aos poucos

minha carteira está no bolso

assinada não está

e o que importa? o que é que há?

os políticos e os ladrões

são todos da mesma laia

uns matam mais do que os outros

mas é sempre uma grande farra

estou sentindo fome

estou sentindo sede

já não tenho onde dormir

vendi minha rede

vendi minha enxada e o meu facão

e já faz tempo que a terra sangra

sou mais um a chorar

sou mais um a tombar no chão

no chão da impunidade

onde o rico tem razão

o Brasil é uma grande ilha

onde o pobre não tem perdão

estou morrendo aos poucos

mas já não sei o que mata mais:

a aids, a corrupção, o desemprego

ou a procura pela paz

paz ainda distante

alimentos estragados

no estoque nacional

pessoas passando mal

estou morrendo aos poucos

sem trabalho, com fome,

sem terra, sem casa,

minha dignidade some

* Autor da Foto (Crucificação): Warllem Soares

SONETO DO CHÃO

SONETO DO CHÃO *

desde que aqui cheguei

nunca abri mão do meu amor

pela vida, pelos pobres, pelo povo

posso ser um sonhador, nunca um bobo

bobo é aquele que se diz esperto

pois não quer a estrada mais longa

não quer servir e abraçar devagar

quer correr e chegar bem perto

para depois fugir ao invés de ficar

do lado dos despossuídos da nação

que com fome, caem pelo chão

chão encharcado de sangue inocente

chão que muito conheço bem

e que sempre tira o sono de alguém


Emerson Sbardelotti Tavares

Membro do grupo de assessores da PJ da Arquidiocese de Vitória do Espírito Santo
Autor de O MISTÉRIO E O SOPRO - ROTEIROS PARA ACAMPAMENTOS JUVENIS E REUNIÕES DE GRUPOS DE JOVENS. Brasília: CPP, 2005.
Autor de UTOPIA POÉTICA. São Leopoldo: CEBI, 2007.

* Autor da Foto (Pai de Warllem voltando de um dia de trabalho): Warllem Soares

O RIO CORRE SEMPRE PRO MAR


O RIO CORRE SEMPRE PRO MAR *

eu tenho um poder nas mãos:

eu sinto o perfume das manhãs,

eu sei votar, eu sou pé-no-chão,

eu sei ser um jovem cidadão!

a juventude está sendo enganada

por um sistema que exclui;

por um sistema que aliena;

por um sistema que mata

a mais doce esperança:

de um outro mundo possível,

do novo aqui e agora...

o mais doce sorriso de criança!

eu vejo a multidão que segue:

são com ovelhas sem pastor...

e todos os dias se criam deuses,

que pregam o dinheiro, - "não ao amor"!

eu vejo e não posso acreditar

que política e cidadania não sejam religião!

que a vida é menor do que a morte!

que o canto é heresia e abominação!

mas tenho no peito

a sábia loucura dos poetas:

o rio corre sempre pro mar...

esta deve ser a meta!


Emerson Sbardelotti

Membro do grupo de assessores da PJ da Arquidiocese de Vitória do Espírito Santo
Autor de O MISTÉRIO E O SOPRO - ROTEIROS PARA ACAMPAMENTOS JUVENIS E REUNIÕES DE GRUPOS DE JOVENS. Brasília: CPP, 2005.
Autor de UTOPIA POÉTICA. São Leopoldo: CEBI, 2007.

* Autor da Foto: Warllem Soares.

PENHA: MENSAGEM DA VIDA

PENHA: MENSAGEM DA VIDA *
(Letra: Emerson Sbardelotti / Música: Emerson Sbardelotti & Fabiano Martins)

Penha, vim aqui,

fazer uma oração!

Penha, toco sim,

a luta no violão!

(a vida no violão!)


crianças abandonadas

não entram nas escolas

meninas prostituidas

andam cheirando coca

João foi despedido

sem nenhuma explicação

Maria e os filhos em casa

não comem mais feijão

Tem ladrão no poder

que não consegue ver a luz

vai enganando o povo...

o rosto simples de Jesus

interceda por nós ó Mãe

pela divina criação...

isso é um canto sussurrado

praticando a salvação


* Autor da Foto de Nossa Senhora da Penha (imagem peregrina): Warllem Soares

VIDA DE CANTADOR

VIDA DE CANTADOR *

dizem que além do horizonte

o vento sopra sem cessar

e digo que aqui, dentro do coração

a Palavra ecoa sem parar

no silêncio escuto a Deus

e sinto todo o meu ser falar

na harmonia com a Terra

uma paz inquieta a brotar


e no caminho faço a missão

fazendo e deixando amigos

chorando, abraçando e sorrindo

e por não estar sozinho

vou enfrentando os perigos

e por carregar a minha cruz

vou seguindo Jesus


dizem que ser profeta

é não se calar

e lembro de Hélder, Paulo e Pedro

do barulho e da mansidão no olhar

e por ser poeta menor

humildemente cantando vou

histórias da cidade e do interior

histórias de vida de um cantador


Emerson Sbardelotti


Membro do grupo de assessores da PJ da Arquidiocese de Vitória do Espírito Santo

Autor de O MISTÉRIO E O SOPRO - ROTEIROS PARA ACAMPAMENTOS JUVENIS E REUNIÕES DE GRUPOS DE JOVENS. Brasília: CPP, 2005.

Autor de UTOPIA POÉTICA. São Leopoldo: CEBI, 2007.


* Autor da Foto do Padre Zezinho com Zé Vicente: Warllem Soares

AO CANTADOR DO SERTÃO DE ORÓS

AO CANTADOR DO SERTÃO DE ORÓS
(para Zé Vicente) *

25 anos de sonhos e cantoria.

faz tempo que bateu suas asas,

foi para o teatro e saiu do ninho.

25 anos em que a palavra é singela poesia.

25 anos de encontros e fantasia!

uma felicidade brotada

das entranhas de Suzana e Zezinho.

50 anos desfrutando a fé e a luta,

mesmo quando o canto só foi de lamento,

mesmo quando precisou seguir sozinho.

50 anos saboreando a vida,

mesmo quando o canto só foi de alegria.

e se o Brasil inteiro cantou e dançou,

é porque sua humildade e simpatia

a todos(as) contagiou e contagia!

simplicidade feita de mistérios,

acordes que expressam a cotidiana utopia.

sorriso que nos leva a dançar o baião...

é poesia profética germinando

por causa do Reino, do Povo e do Chão!

para serenar o coração:

mas, não há mais o que dizer...

as palavras se completam

com o som do seu violão...

tudo vem do amor,

o que há de fazer?

e se estas lhe fazem chorar ou sorrir,

é porque, com certeza,

nos encontraremos por aí...

a você, cantador do sertão de Orós:

um abraço apertado, um cheiro arretado...

deste poeta menor e de todos(as) nós!


Emerson Sbardelotti Tavares

Membro do grupo de assessores da PJ da Arquidiocese de Vitória do Espírito Santo
Autor de O MISTÉRIO E O SOPRO - ROTEIROS PARA ACAMPAMENTOS JUVENIS E REUNIÕES DE GRUPOS DE JOVENS. Brasília: CPP, 2005.

Autor de UTOPIA POÉTICA. São Leopoldo: CEBI, 2007.


* Autor da Foto do Zé Vicente: Warllem Soares

YVY MARÃ EI (A TERRA SEM MALES)

YVY MARÃ EI (A TERRA SEM MALES)
Releitura do Éxodo 3: enquanto vejo Tupiniquins e Guaranis sendo mortos pela Aracruz Celulose

– Prêmio Páginas Neobíblicas da Agenda Latinoamericana Mundial 2003 – primeiro lugar.

Muito tempo depois morreu o Imperador do Mal, e os Filhos do Sol, gemendo sob o peso da escravidão e da extinção, clamavam, e do fundo da escravidão e da extinção o seu clamor subiu até Tupã.

E Tupã ouviu os seus lamentos e gemidos; Tupã lembrou-se do dia em que dançou com os grandes caciques, com os grandes pajés, com os grandes xamãs com os grandes anciãos. Tupã viu o os Filhos do Sol e os conheceu e se compadeceu.

Eis que caçava e pescava Galdino, Pataxó Hã-Hã-Hãe, as margens do Araguaia, próximo aos Karajás, num território que já não pertencia a ele, nem aos seus semelhantes, muito menos aos seus antepassados e isso aumentava ainda mais o sofrimento que trazia em sua alma.

E Tupã lhe apareceu no meio dos toros. Os toros originaram o Quarup. E os toros dançavam, como se estivessem vivos e estavam. E os toros dançavam ao som do canto dos pássaros da floresta, ao som de tambores que Galdino nunca tinha ouvido antes.

E Galdino disse: “Darei uma volta e verei este fenômeno estranho, verei por que os toros dançam, como se vivos estivessem, como se guerreiros fossem”.

E Tupã viu que Galdino deu uma volta para ele ver.

E Tupã o chamou: “Galdino, Pataxó Hã-Hã-Hãe”.

Galdino respondeu: “Eis-me aqui”.

Tupã disse: “Eis a Criação! Dance! Dance para te aproximar. Eis a Pacha Mama de teus antepassados, eis a Grande Gaia! Eu sou Tupã! Eu sou Tupã!”

E Galdino dançou, e ouviu os cantos dos pássaros e dos tambores. E dançou ao redor dos toros onde estava Tupã.

E disse Tupã: “Eu vi, eu vi a miséria do meu povo que está nesta terra continental. Ouvi o seu clamor, o seu lamento por causa dos opressores; pois eu conheço as suas angústias. Por isso desci a fim de liberta-lo da mão do Mal, e para faze-lo subir desta terra a uma terra boa e vasta, terra onde se pesca e caça, onde se planta e colhe, terra onde não existe a morte, onde não há extinção, terra em que não há exclusão. Agora o clamor dos Filhos do Sol chegou até a mim, e também sinto a opressão com que o Mal está oprimindo. Vai, agora, pois eu te enviarei para subir desta terra e ir para o lugar que se chama Yvy marã ei, onde dançaremos a feliz dança da vida”.

Então Galdino disse a Tupã: “Como farei sair os Filhos do Sol para a terra sem males?”

“Eu estarei contigo”, disse Tupã.

E disse ainda: “Vai, reúne os caciques e anciãos e diga-lhes: “Tupã, o Deus de nossos pais, de nossas mães, me apareceu dizendo: “Subirão todos para Yvy marã ei, e dançarão a dança da vida”.

Mas disse Galdino: “Não nos deixarão sair. Seremos assassinados... Destruirão nossa cultura. Nos queimarão vivos enquanto dormimos!”

E disse Tupã: “Estenderei minha mão e ferirei aquele que se diz poderoso. Neste dia a onça pintada não sairá para caçar, o jacaré não entrará no rio, as piranhas não se alimentarão, os pássaros não irão voar nem cantarão, pois Tupã ferirá a casa d’Aquele que se diz poderoso. Se ouvirá em toda a floresta, vale ou campina, na praia ou sertão, o som da guerra em favor do meu povo. E quando todo o povo indígena partir, uma vida nova estará nascendo por essa nova estrada em que caminham os meus guerreiros, as minhas guerreiras.Eis a terra que lhes dou: Yvy marã ei!”

E Galdino saiu da presença de Tupã com seu espírito fortalecido.

Sentira agora, coisas que o sofrimento apagara de seu coração guerreiro.

Correndo pela floresta fez a experiência plena na certeza da vitória, pois Tupã desceu e se fez indígena no meio do seu povo.


Emerson Sbardelotti
Mestre em Teologia pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo

sexta-feira, 13 de junho de 2008

ORAÇÃO PARA UM MUNDO MELHOR!

ORAÇÃO PARA UM MUNDO MELHOR!

Ó Deus da Vida,
bondoso e misericordioso,
fortalece suas filhas e filhos,
comprometidas, comprometidos com as causas do Povo,
nas causas do Teu Reinado.
Fortalece a caminhada
de todas, de todos que trabalham pela paz,
que trabalham pela inculturação,
que lutam pela construçãode uma sociedade justa e fraterna...
Inspira em nós as possibilidadesde um outro mundo,
sem exclusões e guerras.
Abraça-nos com o teu amor de Mãe!
Agora e sempre.
Amém.Axé. Awerê. Aleluia!


TAVARES. Emerson Sbardelotti, UTOPIA POÉTICA. São Leopoldo: CEBI, 2007.

SE

SE

Se os olhos não alcançam os abraços
se os abraços não acolhem os beijos
se os beijos são frios demais
nunca se estará em paz
se os passos não fazem o caminho
se o caminho não conduz ao fim
se o fim está longe demais
nunca se estará em paz
pra que chorar sem sofrer
pra que sofrer sem tentar
cada acerto é o resultado do erro
que se pode ou não realizar


TAVARES. Emerson Sbardelotti, UTOPIA POÉTICA. São Leopoldo: CEBI, 2007.

ouça e baixe a música no site da Trama: http://tramavirtual.uol.com.br/mp3PlayerW.jsp?id_musica=204364

quinta-feira, 12 de junho de 2008

CANTOR DO POVO (para os cantores da fé, do martírio e do povo)

CANTOR DO POVO(para os cantores da fé, do martírio e do povo)

quem pode não quer ajudar
o nosso povo precisa viver
com dignidade, na verdade
um cantor nunca deve se calar

frente aos problemas e desafios
frente aos fundamentalismos da religião
frente à violência sempre assassina
frente à falta de amor e a corrupção


POIS O SEU CANTO É UMA DÁDIVA PODEROSA
QUE POR VEZES AMENDRONTA E SACODE
POIS SUA VOZ É SUAVE E TEM SABOR
MAS QUEM FAZ O MAL: ELA INCOMODA

há tantos caminhos, tantos corações
um deles é o mais estreito
há tantos cantores, tantas canções
o cantar de Jesus é o mais perfeito

e por causa dele continuo a missão
e por causa dele canto tudo de novo
já diria o profeta: "Se me matam, vou ressuscitar
na luta do meu povo!"

"a morte não tem poder
sobre aqueles que entregam
a vida pelo povo!"
é por isso que eu canto tudo de novo
é por isso que sou um cantor do povo


Emerson Sbardelotti
MISSÃO DE CANTADOR

o cantador sabe onde o seu canto pode chegar
o cantador entende quando é hora de seguir ou de parar
nada é mais bonito do que a esperança no olhar
e a paz só se faz quando se entende o verbo amar


a missão do cantador é anunciar e denunciar
através do corpo e da voz as injustiças e o desamor
a missão do cantador é seguir sem saber onde irá dormir
indo de casa em casa, em cada palmo de chão...por aí


e eu vou sem saber o dia de voltar
e eu vou sem saber quem ali irá estar
me esperando, com sorrisos e lágrimas
pois do cantador o que se espera é cantar


e canta a vida e canta o chão
e canta a natureza e canta a cruz
caminhos que se encontram
caminhos brotados da luz


luz divina, luz que ilumina
estes atalhos todos que a poesia trilha
estas estradas tantas que o martírio ensina
e com sangue dos mártires não se brinca


Emerson Sbardelotti

EU SOU UM DT (DESIGNAÇÃO TEMPORÁRIA)

EU SOU UM DT(DESIGNAÇÃO TEMPORÁRIA)

Está chegando mais um dia
o dia do pagamento é sagrado
eu me visto com a melhor roupa
e rezo para não ser assaltado
eu vim aqui contar a minha história
eu vim aqui mostrar o que não se vê
eu sou um deve tudo
eu sou um DT
fico sonhando com o abono
fico fazendo planos
para lhe encontrar e bebermos
os nossos desencontros
eu conto os dias que faltam
não aguento mais tanta confusão
por mim já estariam todos em casa
mas ainda tem a recuperação
e o que mais se pode fazer
se não há mais como ajudar
o menino está de NOA
a menina não pára de chorar

TAVARES, Emerson Sbardelotti. UTOPIA POÉTICA. São Leopoldo: Cebi, 2007.

quarta-feira, 11 de junho de 2008

UM OUTRO MUNDO POSSÍVEL

UM OUTRO MUNDO POSSÍVEL

Um outro mundo possível:
quando todos os seres humanos,
não mais morrerem de fome.
um outro mundo possível:
quando todos os seres humanos,
não mais morrerem nas guerras.
um outro mundo possível:
quando todos os seres humanos,
se derem as mãos.
um outro mundo possível:
quando todos os seres humanos,
cantarem a mais linda canção.
um outro mundo possível:
quando todos os seres humanos,
não forem mais escravos do FMI.
do Banco Mundial,
da OMC,
do Império Norte-Americano.
um outro mundo possível:
quando todos os seres humanos,
voltarem a ser esperança.
um outro mundo possível:
quando todos os seres humanos
se tornarem globalização solidária.
um outro mundo possível:
quando todos os seres humanos,
tiverem suas próprias casas.
um outro mundo possível:
quando todos os seres humanos,
viverem em harmonia com o Planeta.
um outro mundo possível:
quando todos os seres humanos,
forem mais seres humanos.
um outro mundo possível:
quando todos os seres humanos,
respeitarem direitos e deveres.
um outro mundo possível:
quando todos os seres humanos,
forem livres:
das injustiças,
das exclusões,
do machismo,
do feminismo,
do ciúme,
do egoísmo.
um outro mundo possível:
quando todos os seres humanos,
forem humildes e servirem o Povo!
um outro mundo possível
quando todos os seres humanos
se tornarem Paz!

TAVARES, Emerson Sbardelotti. UTOPIA POÉTICA. São Leopoldo: CEBI, 2007.

terça-feira, 10 de junho de 2008

BÍBLIA E LITURGIA EM MUTIRÃO

BÍBLIA E LITURGIA EM MUTIRÃO
Itinerário para iniciantes

ROTEIRO 01: A PORTA DE ENTRADA

Objetivos: Estudar a Bíblia e a Liturgia como instrumentos de transformação pessoal e comunitária a partir de uma leitura popular e ecumênica. Estabelecer um diálogo sincero com Deus e o Povo.

Material sugerido: cangas coloridas estendidas no chão, uma vela grande acesa, uma vela para cada participante, a Bíblia aberta em um salmo, incenso, música instrumental ao fundo, cadeiras em círculo, luzes apagadas, a cruz, óleo perfumado, uma tijela com água.

Acolhida: a equipe que preparou o encontro, possa estar meia hora antes do início, recepcionando a todos/as com carinho, sorrisos e abraços. Que todos/as estejam descalços.

Oração: Rezar o Ofício Divino das Comunidades (conforme o tempo litúrgico).

PARA INÍCIO DE CONVERSA

A Bíblia tem sido o livro mais editado e também um dos mais lidos em toda a história da humanidade, infelizmente, ela tem sido por muitas vezes, lida de maneira inadequada. Por meio da Bíblia, Deus falou e continua falando com o Povo, por isso é necessário que seja lida com cuidado e critérios, pois é o livro da Palavra Viva.
Neste e em outros roteiros que virão, estaremos nos baseando no método de estudo do CENTRO DE ESTUDOS BÍBLICOS – CEBI e o da REDE CELEBRA DE ANIMAÇÃO LITÚRGICA . Por isso, o grupo deve ser pequeno e estar disposto a estudar, a refletir, a debater o que for aprendendo e assimilando no itinerário que começaremos a percorrer.
“Sempre chamaremos de PRIMEIRO E SEGUNDO TESTAMENTOS o que habitualmente costuma se chamar de ANTIGO E NOVO TESTAMENTOS. O Primeiro corresponde às Escrituras que nos vêm dos Judeus, enquanto o Segundo são os escritos das comunidades de discípulos e discípulas de Jesus. Por um lado é uma atitude de respeito para com o povo judeu. Por outro, é porque continuamos lendo a Aliança de Deus com os israelitas como um momento-chave da sua revelação na história humana e não apenas como algo já “velho”, já superado, mas sim como algo que tem ainda muito a nos dizer hoje”.(1).
“Um passeio pela origem do pensamento judaico e cristão foi a rota comum no caminho de todos e todas que ousaram pensar dialogando. Aliás, esta tem sido uma constante na leitura bíblica latino-americana. A leitura judaica das Escrituras começa a ganhar força entre as comunidades cristãs. Este fato tem provocado mudanças de postura em relação ao judaísmo: (…) o uso de ERA COMUM e ANTES DA ERA COMUM para o clássico antes e depois de Cristo; a compreensão do Segundo Testamento como releitura do Primeiro, etc. Tudo isso pode parecer muito novo. Muitos anos (séculos) ainda serão precisos para se sedimentar no meio de nós. Procuramos, na medida do possível, colocar-nos nesta dinâmica de pensamento”.(2).

A proposta que fazemos para o estudo da Bíblia é o estudo por módulos:

Módulo 1 – Primeiro Testamento

Etapa 1: Metodologia e visão global da História de Israel no Primeiro Testamento.
Etapa 2: Formação do Povo (1800 – 1200 a.E.C.).
Etapa 3: Vivência no Sistema Tribal (1200 – 1000 a.E.C.).
Etapa 4: Monarquia – Reino Unido (1000 – 930 a.E.C.).
Etapa 5: Profetismo (1000 – 592 a.E.C.).
Etapa 6: Exílio (592 – 538 a.E.C.).
Etapa 7: Pós – Exílio (538 – 65 a.E.C.).

Módulo 2 – Segundo Testamento

Etapa 1: Metodologia e visão global da História de Israel no Segundo Testamento.
Etapa 2: Jesus Histórico: Movimentos da Palestina sob Roma (65 a.E.C. – 30 E.C.).
Etapa 3: Paulo e as Primeiras Comunidades Cristãs (30 – 50 E.C.).
Etapa 4: Marcos e Mateus (60 – 85 E.C.).
Etapa 5: Lucas e Atos dos Apóstolos (80 – 90 E.C.).
Etapa 6: Evangelho e Cartas de João (90 – 100 E.C.).
Etapa 7: Apocalipse de João (90 – 100 E.C.).

Módulo 3 – Liturgia em Mutirão

Etapa 1: A História da Liturgia.
Etapa 2: A Palavra de Deus na Liturgia.
Etapa 3: O Ministério de Leitores e Salmistas.
Etapa 4: Homilia, Partilha da Palavra.
Etapa 5: O Espaço da Celebração: mesa, ambão e outras peças.
Etapa 6: Domingo, Dia do Senhor.
Etapa 7: Presidir a Celebração do Dia do Senhor.

A Palavra de Deus é a luz que ilumina o caminho por onde andamos, mas não ilumina apenas, ela aquece nossa esperança, ela dá sentido para nossas vidas.
É por isso antes de darmos mais um passo, sugerimos a leitura do Evangelho de Lucas, capítulo 24, versículos 13 a 35 (Lc 24, 13 – 35).
E junto com a leitura algumas perguntas para reflexão:
1. Como Jesus faz uso das Escrituras? Qual a finalidade? É suficiente a memória das Escrituras para devolver a esperança àquele par de discípulos?
2. O que falta ao par de discípulos? Para onde Jesus teria ido?

Canto: Tua Palavra É (Zé Vicente).

Avaliação:
1. O que mais me chamou a atenção neste encontro, o que levo e o que espero encontrar no próximo?
2. Como a Palavra de Deus renasce agora na minha e na sua vida?
3. Como enxergo a Palavra de Deus a partir deste encontro?

Para continuar a reflexão em casa e esquentar o diálogo no próximo encontro:

Qual a tradução da Bíblia, que você mais usa?
Você conhece outras traduções? Quais? Pode trazê-la no próximo encontro?
O que a Bíblia significa para você: ontem e hoje?
Você já encontrou gente que critica a Bíblia? O que é que essas pessoas criticam? (Lembre algumas coisas que essas pessoas dizem criticando a Bíblia!)
E você, quando lê a Bíblia, quais as perguntas ou dificuldades principais que tem?
Você já deve ter conversado com pessoas que lêem a Bíblia, mas acham difícil. Quais as coisas que essas pessoas acham mais difíceis de entender? (Lembre as principais dificuldades que as pessoas falam!)

________________

(1). GASS. Ildo Bohn, Uma Introdução à Bíblia – Porta de Entrada – A serviço da leitura libertadora da Bíblia. São Leopoldo: CEBI. São Paulo: Paulus,
volume 1, 2002.

(2). FARIA. Jacir de Freitas, Leitura Judaica e Releitura Cristã da Bíblia.
Petrópolis: Vozes, RIBLA, n. 40, 2001.



Emerson Sbardelotti
Mestre em Teologia pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo